Como surgiu?
Como surgiu?
O anuário dos festivais e mostras audiovisuais brasileiros existe desde 2016, produzido por mim, Paulo Luz Corrêa.
A ideia de produzir os relatórios surgiu em 2015, quando sentia dificuldade de encontrar informações sobre quantos festivais existiam no país e quais estavam com inscrições abertas. Ou seja, não havia uma base contínua de dados sobre os festivais audiovisuais brasileiros: quantos são, onde aconteciam, quais seriam suas características?
Assim, decidi catalogar os eventos que aconteciam em solo brasileiro e que abriam inscrições para obras durante o ano de 2016, identificando uma série de características que poderiam ser analisadas e transformadas em um relatório anual sobre os festivais brasileiros, apresentando dados que contextualizam essas informações e a lista de festivais encontrados, disponibilizando isso tudo na internet para acesso gratuito e integral para quem precisasse.
Ao todo, são oito edições lançadas (2023). A pesquisa, catalogação, análise das informações, produção dos textos e tudo que envolve os relatórios são feitos voluntariamente e sem remuneração, sem qualquer tipo de financiamento ou patrocínio. A vontade de pesquisar e de iniciar um mapeamento sobre o assunto me motivou a fazer essa empreitada.
A primeira edição do anuário analisava a quantidade de eventos catalogados, quantos festivais eram estreantes, onde aconteceram suas exibições (em qual Região do país e município) e temáticas (festivais universitários, regionais etc.). Ao longo dos anos, novos dados foram catalogados e inseridos: perfil nacional/internacional, metragem de obra aceita para inscrição (curtas, médias, longas), quais os meses em que os festivais acontecem; mas, principalmente, a possibilidade de construção de uma série histórica de informações dos anos de pesquisa dos anuários, permitindo análises comparativas dos dados e como estes eventos se organizavam ao passar dos anos.
Nestes 7 anos de pesquisa, podemos apontar as principais características do circuito de festivais brasileiros: a realização de mais de 300 evento/ano; predominantemente situados na Região Sudeste, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro; eventos voltados para exibição de curtas-metragens; pico de acontecimento em maio, no primeiro semestre; e entre outubro a dezembro, no segundo; embora majoritariamente composto por festivais generalistas (que aceitam obras de qualquer temática), grande quantidade de eventos universitários, regionais, estudantis, de cinema fantástico, com foco em obras dirigidas por realizadores negros, mulheres, LGBTQIAP+, animação, ambiental e infantojuvenis;
A pesquisa permitiu a identificação de como os festivais brasileiros se comportaram durante a pandemia do novo Coronavírus (2020-2022), em que houve uma alteração de um cenário predominantemente físico de exibição para uma enorme aderência à exibição online e híbrida. Da mesma forma, identificamos a presença da Lei Aldir Blanc 1 em 33% dos eventos realizados em 2021, e como o setor está se configurando após a pandemia.
Definições
O QUE É UM FESTIVAL/MOSTRA?
ETIMOLOGIA
A etimologia da palavra "festival" vem do termo homônimo do francês antigo para indicação de determinado acontecimento "adequado para uma festa" (ETYMOLOGY, 2021, tradução nossa), do latim medieval festivalis e, posteriormente, festum, relacionados a celebrações religiosas programadas para um momento estabelecido, os feriados. (ETYMOLOGY, 2021, tradução nossa). Para Marcelo Bones, "festival" deriva também do latim festivus, e converge com a ideia de "festa e festividade" (BONES, 2017, p. 22).
DEFINIÇÃO
Uma definição abrangente de um festival não é tarefa fácil, por envolver diversas atribuições de sentido, formatações, estruturas e atuações desses eventos, o que dificulta uma síntese ampla de seus atributos fundamentais. Entretanto, nos parece aplicável para esta pesquisa os fundamentos da jornalista Miriam Alencar, autora da obra "O cinema em festivais e os caminhos do curta-metragem no Brasil", que define festival como "uma série de manifestações artísticas que se caracterizam pelo nível de suas apresentações, pelo número de participantes, pela periodicidade ou pelo local onde se realizam" (ALENCAR, 1978, p. 47).
A autora também percebe uma associação multifacetada desses eventos. Quando um festival acontece, com ele, estão interesses de diversos atores, como: 1) Governos: gerando prestígio, projeção da imagem de "incentivador de arte" e de estímulo ao turismo; 2) Empresas de Audiovisual: que conquistam mercados e aumentam visibilidade dos filmes que participam nos festivais, principalmente ao serem premiados; 3) Mercado publicitário: com realização de campanhas; 4) Profissionais do setor (diretores, atrizes e atores): que podem conseguir visibilidade em suas carreiras a partir da participação em um festival; 5) Público: podendo assistir obras que, a princípio, não teriam acesso no mercado de exibição comercial; 6) Países: sendo projetados nacional e internacionalmente por meio dos festivais (ALENCAR, 1978, p. 45).
Alencar, então, nos dá algumas ideias das características de um festival: evento marcado para ocorrer em algum espaço e tempo, com presença governamental ou não, de público e profissionais do setor, espaço para divulgação do cinema enquanto ambiente de cinefilia e para atuação de mercado, criando-se diversas associações, o que impacta na finalidade, estrutura, público-alvo.
Um festival pode ter diversas destinações: como janela paralela - alternativa e simultânea - ao sistema comercial de exibição, gerando visibilidade a obras que teriam dificuldades no circuito convencional; e como espaço para que obras negligenciadas pelo mercado, como curtas e médias-metragens, tenham oportunidade de visualização. Ao mesmo tempo em que são alternativa ao mercado, são direcionados ao próprio mercado, atuando como espaços de divulgação comercial das obras antes de entrarem no sistema regular de exibição. Neste sentido, os festivais são uma etapa do mercado audiovisual, gerando publicidade para as obras que participam e são premiadas nestes eventos, que podem se tornar espaços de vendas de filmes, para acordos de coprodução e fontes de financiamento, e também são ambiente de fomento ao pensamento crítico do cinema enquanto meio artístico por meio de atividades que geram diálogo e reflexão, como oficinas de capacitação e debates.
MOSTRA E FESTIVAL
A diferença de um festival e mostra é que “um festival possui mostras competitivas e premiação, enquanto uma mostra não, mas um festival é uma mostra, porque “mostra algo”: "Festival de cinema foi o termo encontrado para nomear o que deveria ser mais propriamente mostra, no sentido que este vocábulo é empregado para denominar exposições de arte. Os festivais surgiram para defender a obra de arte independente de seu processo industrial. Estão hoje, no mundo, envolvidos pelas grandes indústrias e se dividem em diferentes setores: para abrir a produção industrial e o cinema de autor" (ALENCAR, 1978, p. 44). No cenário contemporâneo, há festivais que não são competitivos e mostras que outorgam prêmios, fazendo com que, na prática, não resulte diferença entre um termo e outro, tornando-os sinônimos.
E O ANUÁRIO?
Durante a produção do anuário, não consideramos como eventos distintos um festival e uma mostra, sendo incluídos nos relatórios os dois tipos de eventos. Por isso, a utilização do termo "festival/mostra".
Utilizando como referência os apontamentos de Miriam Alencar, essa pesquisa considera para efeitos de catalogação a seguinte configuração de festival/mostra audiovisual brasileiro: evento periódico de realização, que essencialmente acontece dentro de um ano, com datas determinadas de início e fim, contagem de edições entre um ano e ano para diferenciar suas realizações, que possua inscrição/convocatória para obras e que dessa chamada resulte uma programação de exibição de conteúdo audiovisual dentro dos dias que o festival/mostra acontece.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Miriam. O cinema em festivais e os caminhos do curta-metragem no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1978.142p
BONES, Marcelo. Um olhar sobre os festivais. p. 22-27. IN Palco Giratório: circuito nacional. Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2017. Catálogo do Palco Giratório. Disponível em: <https://bit.ly/3uWYtxS>. Acesso em: 17 maio. 2021.
ETYMOLOGY – Festival. Pensilvânia, Estados Unidos: Online Etymology Dictionary. Etimologia da palavra "festival". Disponível em: <https://bit.ly/33RrVJM>. Acesso em: 17 maio. 2021
Metodologia
- A pesquisa por festivais acontece durante todo o ano;
- Estes eventos são catalogados e extraídas características iniciais com base na leitura do regulamento, e consolidados no texto final após confirmação de que foram realizados;
- São incluídos apenas festivais/mostras que abrem inscrições para obras e que aconteçam no mesmo ano;
- É considerado para catalogação apenas eventos nacionais que aconteçam em solo brasileiro;
- O anuário e seus anexos são disponibilizados gratuitamente em fevereiro;
Características levantadas:
- Nome completo do festival;
- Edição;
- Onde é realizado (em quais cidades/Estado);
- Tipo de exibição (presencial, online, híbrida);
- Temática;
- Perfil (Nacional/Internacional);
- Se já aconteceu no ano passado ou não (é uma continuidade ou não);
- Mês previsto para realização;